Contra a música

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2011-04-11T22:02:06.923-03:00



Contra a música

Eu acho que o meio evangélico inteiro deveria suspender todo tipo de música instrumental, e apenas recitar salmos em seus cultos de adoração – pelos próximos dez anos*.
Criado por redação Multiconexão|| 02/05/2012        Orkut  Twitter  Facebook

Desde que me tornei presbítero em uma igreja local, me assusto com o quanto muitos cristãos são dependentes de certo estilo musical, ou de certo nível de excelência na música. Quantas vezes você ouviu alguém dizer, por exemplo, “eu não consigo louvar naquela igreja”? Ou “eu simplesmente não me sinto conectado a Deus ali”.

É claro que pode ter alguma coisa errada acontecendo lá, mas acho que muitas vezes, se você espremer declarações como essas, o que encontra por trás de tudo não é muito diferente de “eu não gosto da música dali”. Pessoas não expressam dessa maneira clara, provavelmente porque se você fizer isto, parecerá ridículo.

Mas penso que isso é o que muitos querem dizer quando dizem: “eu não consigo adorar ali”. A realidade é que um piano armário sozinho simplesmente não consegue fisgar suas emoções tanto quanto uma banda completa. Eles não conseguem aquele “sentimento transcedente”, então ficam desencorajados e terminam dizendo que “não conseguem adorar”.

Eu me pergunto se todo aquele fenômeno da “excelência na música de louvor e adoração” que vimos nos últimos anos – apesar de todo bem que tem feito – também não gerou uns efeitos inesperados nos jovens cristãos. Me pergunto se não criou uma geração de místicos funcionais, que medem seu relacionamento com Deus por experiências emocionais, ao invés da realidade objetiva da redenção.

Quando eu era um aluno do ensino médio, fui em algumas poucas conferências Passion, quando elas eram realizadas no Texas. Foram experiências formativas e maravilhosas para mim. John Piper me “reformou” em um sermão bombástico em Romanos 3, e isso – de uma forma ou de outra – moldou a trajetória da minha vida desde então. E a música era excelente – verdadeiramente maravilhosa em todos os sentidos. Nós cantávamos alto, com as mãos para cima, os olhos fechados e cheios de lágrimas algumas vezes, e acredito que adorei a Deus durante tudo isso.

Mas então voltei para New Haven, Connecticut. As equipes de louvor se foram, eu não tinha o grupo de pessoas que tinha me acompanhado e compartilhado aquela experiência, e as igrejas tinham um piano e trinta pessoas cantando hinos de Isaac Watts. Isso me forçou a aprender como soltar fogos de adoração com verdades e palavras, e não apenas com música excelente. Eu aprendi como ser influenciado emocionalmente pelas palavras excelentes dos hinos, quer eles fossem tocados e cantados “excelentemente” ou não.
Existe uma geração inteira de jovens lá fora, agora, que não são emocionalmente influenciadas pelas palavras, cujos fogos só são disparados quando essas palavras são acompanhadas por grandes ritmos, instrumental habilidoso, e um certo clima familiar que tipicamente acompanha o “louvor-e-adoração” cristão. E o resultado disso é que você vê jovens pulando de igreja em igreja pela cidade, e um dos critérios principais para a compra é “a adoração”, embora muito frequentemente eles queiram dizer “a música”.

Você tem jovens cristãos se sentindo desencorajados porque – a despeito do fato de que eles estão sob a pregação fiel da Palavra domingo após domingo – dizem que não se “sentem próximos de Deus” há muito tempo. Talvez haja alguma coisa importante acontecendo aqui. Mas também existe uma boa chance, eu diria, de que eles apenas não tiveram uma boa dose de endorfina desde o último congresso em que estiveram.

Estou realmente preocupado que tenhamos criado uma geração de cristãos anêmicos, que são espiritualmente dependentes de música excelente. Seu senso de bem-estar espiritual é baseado em sentir-se “perto de Deus”, seu sentir-se próximo a Deus é baseado em sua “capacidade de adorar”, e ser capaz de adorar depende de grandes multidões cantando ótima música.

Para piorar, pense em quantas brigas e divisões em igrejas estão enraizadas em discordâncias sobre música. Pessoas deixam as igrejas porque não gostam da música. Cristãos que acreditam exatamente nas mesmas coisas sobre Jesus adoram em prédios vizinhos porque não podem aceitar o estilo musical do outro.

Igrejas se dividem porque uma facção quer música “contemporânea” e outra quer música “tradicional”. A questão não diz respeito às palavras; diz respeito a como as palavras são cantadas, e com que instrumentos. Isso até tem seu próprio nome – “os conflitos de adoração”¹, que quando traduzido com um pouco de honestidade, significa realmente “os conflitos de música”.

O ponto decisivo, suponho, é que cada cristão deveria fazer uma busca honesta em seu coração sobre o que o faz se sentir “perto de Deus”. Você pode se sentir próximo de Deus só por ler ou dizer as palavras “Em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto”? Você seria capaz de participar de uma igreja que é ótima em tudo, exceto na música? Se não, você provavelmente precisa pensar um pouco se sua vida espiritual é dependente de algo da qual ela não deveria ser dependente.
Traduzido por Josaías Jr. | iPródigo.[Parte1]